SOU NEGRA, SIM

Resultados da Pesquisa "Mulheres Afro-Gaúchas"

terça-feira, 3 de abril de 2007

COORDENADORIA ESTADUAL DA MULHER DISTRIBUI O LIVRO “MULHERES DO RIO GRANDE DO SUL: DIVERSIDADE”

Coordenadoria Estadual da Mulher do RS
Rua Siqueira Campos, 1184, 6º andar
Porto Alegre, Centro, CEP 90010-001
Fone/fax: (51) 3221.4438 / (51) 3221.4434
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MULHERES AFRO-GAÚCHAS TÊM CAPÍTULO NO LIVRO “MULHERES DO RIO GRANDE DO SUL: DIVERSIDADE”

por Sátira Machado

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No dia 12 de dezembro (terça-feira), a Coordenadoria Estadual da Mulher do RS e o Museu Antropológico do RS - MARS realizaram o lançamento do livro “MULHERES DO RIO GRANDE DO SUL: DIVERSIDADE”. A edição traz o capítulo Mulheres Afro-Gaúchas: Negritude à Flor da Pele, além dos capítulos que contemplam as mulheres indígenas, espanholas, ciganas e luso-açorianas.

A publicação é resultado do Termo de Cooperação entre o MARS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura - Sedac - que visa recuperar, proteger e preservar as múltiplas faces do caleidoscópio étnico gaúcho - e a Coordenadoria Estadual da Mulher, ligada ao Gabinete do Governador do Estado do RS - que tem a finalidade de assessorar, assistir, apoiar, articular e acompanhar as ações voltadas às mulheres, inclusive monitorar as políticas públicas para as mulheres negras. O livro é o primeiro de uma série que pretende resgatar a história, memória e tradição de mulheres pertencentes as mais de 40 etnias que formam a identidade gaúcha.

Respeitando a voz das mulheres negras, a equipe do Núcleo de Pesquisa das Etnias Africanas do MARS ouviu 30 mulheres afro-gaúchas para a produção do capítulo. O texto soma-se aos muitos levantamentos que vêm sendo feitos pelas próprias mulheres negras no Estado: lideranças negras, das mais variadas áreas do conhecimento, que exaltam a negritude para participar ativamente da sociedade. E, principalmente, a edição vem abrir caminho para a divulgação da história do Rio Grande do Sul, também do ponto de vista das mulheres negras.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

MULHER AFRO-GAÚCHA: NEGRITUDE À FLOR DA PELE - capítulo sem as entrevistas -

por Sátira Pereira Machado (1)

Ninguém sabe exatamente. Até hoje, poucos foram os estudos feitos no Rio Grande do Sul para mapear com detalhes a verdadeira memória, história e tradição das mulheres negras no Estado. A boa notícia é que, segundo especialistas, essa realidade está mudando. E ficando mais plural, ao privilegiar estudos que partam do ponto de vista das mulheres negras. Muitos levantamentos vêm sendo feitos pelas próprias mulheres negras gaúchas. Lideranças negras, das mais variadas áreas do conhecimento, exaltam a negritude para participar ativamente da sociedade.

Respeitando a voz das mulheres negras, a equipe do Núcleo de Pesquisa das Etnias Africanas do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (MARS), composta pelos autores deste capítulo, realizou a pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas”, sub-projeto do projeto do MARS: “História, Memória e Tradição”, que tem por objetivo recuperar, proteger, preservar e divulgar as múltiplas faces das mais de 40 etnias que formam a identidade dos gaúchos. A pesquisa é o resultado do Termo de Cooperação entre o MARS e a Coordenadoria Estadual da Mulher, que tem a finalidade de assessorar, assistir, apoiar, articular e acompanhar ações e políticas voltadas às mulheres - de todas as etnias que compõem a identidade das gaúchas - inclusive as mulheres negras.

Nessa pesquisa, assim como em muitas outras, o tempo foi curto. Mas atingiu seu objetivo: levantar a discussão sobre a essência da mulher afro-gaúcha. Essa dúvida existencial tem estimulado mais e mais estudos sobre as mulheres negras no Estado. Listar “quem é quem na negritude feminina gaúcha” não foi meta desse ensaio. Mas, sim, ouvir e ouvir muitas histórias de vida e depoimentos orais, como método de amparo a metodologia qualitativa do trabalho. Assim, a equipe passou a conhecer as experiências de 30 mulheres negras, de profissões e idades diversas, cujos nomes estão listados nas fontes orais - ao final deste capítulo(2). Muitas outras mulheres negras mereciam serem ouvidas, mas isso é pretensão de uma outra edição da pesquisa. O importante é entender que o tema não se esgota aqui.

Procuramos identificar as inter-relações culturais, sociais, econômicas, lingüísticas, geográficas e biológicas fundamentais para a formação da identidade da mulher gaúcha. Em campo, os pesquisadores foram recebidos pelas entrevistadas em vários lugares: quilombos, clubes sociais de negros, casas de religiões de matriz africana, espaços de preservação das tradições gaúchas, instituições de ensino, bibliotecas, museus e casas de cultura, órgãos de governo – municipais e estaduais, e em suas residências. Alguns dados de institutos oficiais de pesquisas e estatísticas – ou órgãos similares - também foram muito importantes para as referências sociais.

Ao aceitar o desafio branco do papel e escrever sobre a negritude gaúcha, a equipe do Núcleo de Pesquisa das Etnias Africanas do MARS optou por fazer um capitulo livre, como as mulheres negras, sem conceitos e sem preconceitos. Motivos não faltam para incertezas intelectuais. Então, o texto permite ao leitor interagir com as idéias sugestivas sobre as mulheres negras – seus pensamentos e comportamentos.

Os subtítulos – subjetivos - introduzem as reflexões, breves. Em SOU NEGRA, SIM, falamos sobre a negritude; em NÃO SOU DE NINGUÉM, sobre a África; em SOU BRASILEIRA GUERREIRA, sobre as afro-brasileiras; em SOU NEGRA GAÚCHA, TCHÊ, abrimos várias frentes de diálogo sobre a negra rainha, escrava, quilombola, tradicionalista, livre e axé negro; em NEGRA EXCLUSÃO, falamos sobre clubes negros, carnaval, mídia negra; em INCLUSÃO NEGRA, sobre o ensino e a escola; em NEGRA É LINDA, falamos da beleza negra; em MIMO NEGRO, inserimos falas ilustrativas sobre as relações familiares, importantes para a auto-estima da mulher negra; em NEGRAS EM MOVIMENTO, sobre a luta das mulheres negras por melhores condições de vida para toda a comunidade negra gaúcha; e, por fim – mas não finalizando o debate – em “NEGRA” TEMA, apontamos caminhos para pesquisas futuras.

Evitando análises parciais, escolhemos não tecer comentários sobre os depoimentos. Esperamos que a leitura leve a uma interpretação solta, enriquecida com as lembranças de cada leitor, negro ou não. As falas dizem por si só. Diante disso, saber o que está por trás da verdadeira história do Rio Grande do Sul – incluindo a história, memória e tradição das mulheres negras - é uma questão para todos, ou ao menos para aqueles preocupados em construir um mundo melhor.

SOU NEGRA, SIM

As mulheres negras têm orgulho de serem mulheres negras. Parece redundante, mas é pura negritude. Todo mundo quer saber qual o grande segredo das filhas da África. São vários, ao longo da história, o mais preservado é: com sabedoria, superam tudo, principalmente amparadas pela espiritualidade. O fato é que as diversidades étnicas, culturais, sociais, espirituais, econômicas, lingüísticas, geográficas e biológicas das afro-brasileiras emprestaram seus elementos para a construção de uma identidade em torno da negritude. A conseqüência óbvia é a recriação de uma identidade negra, também gaúcha.

Os geneticistas têm desmoralizado o conceito de raças, valorizando o de uma única raça humana marcada pela diversidade. No entanto, o Movimento Negro baseia o conceito de raça na dimensão social e política do termo, uma vez que quando se fala em racismo no Brasil normalmente se lembra do negro. A discriminação racial brasileira tem relação com aspectos culturais, sociais, econômicos, físicos e estéticos que atingem diretamente os afro-brasileiros. Construir uma identidade negra positiva na sociedade brasileira, que ensina aos negros que para ser aceito é preciso rejeitar seu jeito de ser, é um desafio para todos os brasileiros. (GOMES, 2005)

Mas o que as mulheres negras fazem para manter sua negritude? Basicamente, evocam o diálogo entre a etnia, a cidadania, o gênero, o sexo, entre outras categorias, no processo democrático. Para debater idéias, procuram descobrir o que leva à desigualdade para (re)definir estratégias de superação. E - o mais importante - as mulheres negras vencedoras, ativistas políticas e sociais lutam pelos direitos de milhares de cidadãos da comunidade negra que ainda estão em situação de vulnerabilidade social. A idéia é que: se cada mulher negra agir visando a qualidade de vida da população negra, a sociedade vai caminhar naturalmente, para o bem de todos os brasileiros.

Mais ativas, as mulheres negras colocam as semelhanças culturais, estéticas, religiosas e filosóficas - presentes nas artes, no corpo, no espírito e no pensamento – na unidade ancestral. Buscam na africanidade a transformação da diversidade africana em união afro-descendente. Lutam por melhores condições de vida para os africanos, para as populações da diáspora negra pelo mundo e para as afro-brasileiras. Reivindicam o direito à redistribuição das riquezas. Numa trégua, a raiz européia abre caminho para a raiz africana. No auge, os movimentos de mulheres negras – regionais, nacionais, internacionais - não mudam o foco eurocêntrico por um afrocêntrico, mas definem novas relações de poder.

Na obra A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil , o antropólogo Kabengele Munanga considera a identidade dos descendentes de africanos uma questão complexa. O Movimento Negro qualifica, politicamente, como “negro” os brasileiros dessa aparência, considerando a grande incidência de discriminação contra as “pessoas de cor”. Já o conceito de “afro-descendente” faz uma aproximação entre negros e mestiços, incluindo brancos com marcadores genéticos africanos. Por ocasião da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, realizada em Durban/África do Sul e promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas) de 30 de agosto a 7 de setembro de 2001, “afro-brasileiro” foi o termo melhor aceito para definir o conjunto de etnias africanas que formam a negritude no Brasil. (MUNANGA, 2004)

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realiza censos onde os brasileiros podem declarar sua “cor” ou “raça” como branca, preta, amarela, parda, indígena ou sem declaração. O percentual de “negros” no Brasil é a soma entre os pretos e os pardos, declarados no censo do IBGE. No Rio Grande do Sul, existem cidades em que 33,93% da população se auto declara como mulher negra (3). Pesquisas realizadas em universidades gaúchas apontam um índice ainda maior de população negra no Estado. Trata-se da auto-estima renovada pelo pertencimento étnico, quando as afro-brasileiras fazem questão de dizer: sou negra, sim.

NÃO SOU DE NINGUÉM

Conhecer a verdadeira história da humanidade inclui investigações sobre a África. Surgem várias respostas a uma única pergunta: Quem somos nós? Novos olhares sobre o continente, a diáspora africana, a influência africana na história e na cultura das Américas e do Caribe têm contribuído com o debate. Os esforços das mulheres negras em valorizar a história, memória e tradição dos afro-brasileiros servem para multiplicar idéias e ideais. Intelectuais intensificam a produção de conhecimentos, sob o ponto de vista negro, dando origem a múltiplas reflexões sobre a condição das mulheres negras, também no Rio Grande do Sul.

Todo mundo sabe: na África encontraram – e continuam encontrando – os vestígios dos primeiros antepassados dos humanos, muitos deles femininos, datados de 7 milhões de anos atrás. Até pouco tempo, só se falava numa África selvagem e pobre, sem intelectuais negros valorizados pelo pensamento ocidental. O ponto de vista de cientistas africanos ganhou dimensão internacional, com a participação deles na publicação da Coleção História Geral da África – oito volumes patrocinados pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura)nas décadas de 70 e 80, do Século XX –, marco para o rompimento de uma imagem reducionista da Mãe África. (LIMA, 2004)

Antes de 1400 d.C, os 30.522.000 Km2 do continente eram habitados por vários grupos étnicos, cuja diversidade era marcada pelas línguas, dialetos, crenças, costumes, tradições e paisagens. Um mundo diferente, mas significativamente espiritual, onde muitos povos eram organizados em reinos – com suas rainhas - e em sociedades complexas. Mantinham rotas internas e externas de comércio - inclusive entre muçulmanos e cristãos. Mas não pense que a mulher não era uma agente social, ao contrário, mulheres dos reinos fons e nagô fiscalizavam o palácio real e o reino de Daomé mantinha tropas femininas temidas pelos inimigos, por exemplo.

Negociantes, as jovens mulheres iorubas comercializavam em mercados distantes, enquanto as mulheres de mais idade permaneciam próximas as suas casas com seus tabuleiros. Muitas vezes, a ioruba revendia produtos produzidos pelos homens, ficando ela com o lucro. Em feiras, as mulheres trocavam notícias, receitas, mitos, modas, músicas, danças e realizam alianças, que podiam definir o futuro de suas comunidades. No século XVIII, em algumas sociedades africanas, muitas dirigentes de associações femininas eram membros de conselhos urbanos. Cuidavam de temas relacionados aos rituais de fecundidade e de fertilidade, como forma de preservar a cultura. (BERNARDO, 2005)

Os casos de escravidão ocorriam em todos os territórios da terra – de norte ao sul, de leste ao oeste. A explicação é simples. As guerras levavam os perdedores a tornarem-se prisioneiros (escravos) e os empréstimos levavam os devedores a tornarem-se servidores (escravos). Mas os africanos negros eram fortes e dominavam várias técnicas de produção. Então a ganância humana se inflamou, acelerou os corações e instalou a dominação perversa no continente africano. Entra em cena o humano-mercadoria, mais conhecido como negro (escravo), na idéia de que um humano possa ser dono de outro humano.

Articulações lusitanas estimularam o lucro e passaram a enriquecer os traficantes europeus – tráfico negreiro - a partir do século XV. Entre 1451 e 1870, os navios transatlânticos espalharam mais de 10 milhões de homens, mulheres e crianças africanas pela Europa e pelas Américas. Mais de 1 milhão de africanos escravizados passaram pelo porto da cidade de Liverpool – ao norte da Inglaterra – rumo aos Estados Unidos e a região do Caribe. Mas o maior número foi traficado para o Brasil: cerca de 40% do total.

As mulheres africanas vieram sem bagagem, mas com várias idéias na cabeça. A destruição de seus ritos e mitos, guardados na memória coletiva e na representação social, não foi possível. Tudo graças à orientação dos ancestrais para a continuidade da comunidade negra, mesmo fora da África. Energia sagrada, a ancestralidade - o viver dos antepassados – ainda hoje dá força cósmica aos filhos da África, visivelmente na espiritualidade dos afro-brasileiros.

Trazidos durante quase quatro séculos para o Brasil, a maioria dos africanos veio de Angola e Congo (Benguelas, Caçanjes, Cambindas, Rebolos, Muxicongos – os Bantos); da Guiné (Fulas, Mandingas, Haussás, Falupes, Banhuns – os Minas); da Costa do Ouro ou Gana, Costa da Mina e Daomé (Fantis, Ashantis, Euês, Fons, Egbás – os Jejes, Iorubanos, Nagôs); e do Sudão (Haussás, Tapas, Mandingas – os Malês). Os bantos vieram em maior número – deixando marcas na língua portuguesa falada no Brasil, mas a memória iorubana é a mais visível, pois esses chegaram ao país somente no Séc. XIX e a mídia faz com que conheçamos mais os deuses iorubanos, como por exemplo, Iemanjá. Iemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja ou Yemoja é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão iorubá Yèyé omo ejá. (LOPES, 2004)

As campanhas pelo fim da escravidão fizeram a Europa intensificar a exploração dos africanos no próprio continente. A ocupação foi negociada na Conferência de Berlim (1884-1885, do Século XIX) com a justificativa européia de civilizar, pacificar e cristianizar os povos africanos – incluindo as mulheres, fortes feiticeiras. O imperialismo europeu dividiu o continente em colônias belgas, francesas, espanholas, inglesas, portuguesas, italianas, entre outros países associados - distribuídas em dezenas de novos países. A distribuição entre os europeus não considerou os limites milenares estipulados entre os povos nativos, causando estranhamento entre africanos. A Etiópia – onde vivem muitos judeus negros - e a Libéria - fundada por ex-escravos estadunidenses – foram os únicos países não colonizados.

Havia no ar a sensação de que estava surgindo uma nova África, industrializada e urbanizada, mas sem qualidade de vida para os africanos – veja bem: africanos negros. E olha que o slogan da Revolução Francesa era: “liberdade, igualdade e fraternidade”, já em 1789, marcando o fim da servidão feudal superada pelo capitalismo. Mas - como quase sempre - os negros ficaram à margem dessas conquistas. O problema nesse mecanismo foi projetado em abalos políticos, econômicos e sociais, acabando com o equilíbrio do continente. Confrontos armados e fugas causaram a paralisação da produção e várias crises alimentares.

O sonho de transformação deu lugar a uma realidade bem menos otimista. As mulheres negras tiveram que redobrar seu empenho em proteger seus filhos e preservar a cultura, sob pena de extinção. A escassez de recursos em muitas regiões não africanas fez com que novamente as riquezas - material e imaterial - da África serviram para reconstruir países europeus destruídos pelas guerras mundiais e financiar várias conquistas do mundo contemporâneo.

No século seguinte, novas alianças políticas mundiais criaram mecanismos coercitivos de exploração dos africanos negros, estimulando o racismo como ideologia do colonialismo. Em 1948, a África do Sul foi o país do continente africano que, sem vergonha alguma, instituiu o regime do Apartheid (separação, em africâner). Essa lei oficial assegurou vantagens econômicas, sociais e culturais para uma minoria branca, deixando em desvantagem a maioria da população negra do país. O fim do Apartheid ocorreu somente na década de 90, do século XX. Muitas mulheres negras foram decisivas nesse processo, protagonizado pelo africano Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano e eleito presidente da África do Sul, em 1994.

Hoje a África tem 48 países continentais e seis insulares, num total de 54 países – a maioria conquistou a independência nas últimas décadas. Movimentos sociais internacionais passaram a investir na africanidade, símbolo da união entre africanos do continente e da diáspora. As mulheres africanas têm contribuído para o debate sobre as ideologias da emancipação africana e as questões político-econômicas que a África tem assumido no cenário internacional. A situação atual e a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África – NEPAD trazem esperanças de um mundo melhor, também com a contribuição da Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB, intelectuais e gestores brasileiros.

SOU BRASILEIRA GUERREIRA

Afinal, quem são as afro-brasileiras? À primeira vista, mulheres pretas, sararás, crioulas, escravizadas, mucamas, livres, feiticeiras, batuqueiras, carolas, domésticas, professoras, advogadas, médicas, engenheiras, filósofas, cientistas... Até aí tudo bem. A resposta, porém, fica um pouco mais complicada quando se trata de buscar a essência dessas mulheres negras. Afetivas, desejadas, habilidosas, sábias, iluminadas, cheias de desejos, valores e ideais. Mas ninguém contesta: são guerreiras, valentes, corajosas, persistentes e indomáveis. Um dos erros é acreditar que são iguais, só por que são mulheres negras. Ao contrário: diferentes entre si são o orgulho da comunidade negra.

Durante quase quatro séculos, mercadorias – negras – foram trazidas para servir ao Brasil. Escravas, as mulheres negras faziam de tudo: realizavam os partos, amamentavam, plantavam, colhiam, costuravam, lavavam, passavam, engomavam, curavam e ensinavam várias coisas da cultura africana para a criançada (branca e negra). Deram lucro e conforto às elites do país. E nas horas extras, satisfizeram os patrões e ganharam o rancor das patroas. Se levássemos ao pé da letra, vendo desse ângulo “negro”, fica “claro” que os colonizadores usufruíram a mão-de-obra e os conhecimentos técnicos dos africanos para construir o Brasil e desfrutar das riquezas acumuladas.

Nem tão boazinhas assim – afinal, ninguém merece –, reagiram de várias formas às más condições de vida. Rebeliões e insurreições negras tiveram ampla participação das mulheres negras. Não dá para esquecer de citar o toque e a jinga da capoeira. Já nas senzalas, os africanos cativos benziam-se e disfarçavam os treinamentos incluindo a música no jogo. Assim, a luta parecia uma dança, acompanhada de palmas e toques de tambores. Exercício físico e mental, os golpes conhecidos como: a Cabeçada, a Rasteira, o Rabo de Arraia, a Chapa de Frente, a Chapa de Costas, a Meia Lua e a Cutilada de Mão. Só depois o berimbau chegou as rodas de capoeira, recheadas de músicas repetidas em coro por todos. Arte proibida no Brasil, só foi liberada na década de 30, como categoria esportiva(4).

Cantando e dançando, resistiram e confundiram o célebre Gilberto Freire. Na década de 30 do séc. XX, ao publicar o clássico Casa Grande e Senzala, o escritor fez todo o mundo acreditar na democracia racial brasileira. Mito baseado na miscigenação, numa harmônica integração sexual mas não econômica. Acontece que, anos depois, a UNESCO questionou a utópica democracia racial brasileira. Um grupo de cientistas protagonizado por Florestan Fernandes estimulou vários estudos sobre as desigualdades econômicas e socioculturais que afetam diretamente os afro-brasileiros. (ANDREWS, 1997). A pergunta que não cala é: Que democracia é essa a qual não garantiu a partilha igualitária das riquezas entre brancos, pretos e mestiços?

Em 2005, o IBGE revelou que os negros são 66% dos pobres brasileiros e 16% da elite. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ressaltou que, apesar dos avanços na igualdade social, o número de pobres só não cai entre negros, retrato da desigualdade étnico-racial. Mesmo representando quase 50% da população brasileira, os afro-brasileiros são dois terços dos 10% mais pobres do país e um sexto entre o 1% mais rico, na Síntese de Indicadores Sociais de 2005.

SOU NEGRA GAÚCHA, TCHÊ

Para começo de conversa, é bom lembrar que navegações transatlânticas traziam a promessa de um paraíso nas prósperas terras brasileiras. Ocorre que as caravelas estavam cheias de esperança para milhares de colonizadores - que fizeram riqueza em terras gaúchas. Mas trouxeram dissabor para as mulheres negras que vieram empilhadas nos porões dos navios negreiros. Todo o mundo acha que Rio Grande do Sul tem excelência em qualidade de vida – e tem mesmo –, só que esse prestígio tem cor e não é a cor negra. Em pleno século XXI, as mulheres negras gaúchas ainda têm que reivindicar qualidade de vida – e, muitas vezes, condições mínimas - para a comunidade negra, uma das mais vulneráveis à exclusão social assim como as comunidades cigana e indígena.

Tanto pelo relato quanto pelos registros, sabemos que a maioria dos navios dos colonizadores portugueses tinha os africanos como passageiros – os futuros trabalhadores das colônias. Em 1501, pela primeira vez, tais navios – preferencialmente tripulados também por africanas - passaram a percorrer o litoral gaúcho. Ninguém sabe direito, mas dizem que não desembarcaram acreditando que as praias eram muito agitadas. Sem descer das caravelas, em 1531, Martim Afonso de Souza e Pero Lopes encontram a entrada para a Lagoa dos Patos, divulgando o feito para a Coroa Portuguesa. Vindo do Paraguai, em 1626, o PE Jesuíta Roque Gonzalez cria São Nicolau, na atual região das missões. No mesmo ano, passeando pelos campos, vales e montanhas, o jesuíta encontra portugueses negociando com indígenas na região onde hoje é Porto Alegre, perto do Lago Guaíba. (COSTA, 2006)

Em 1628, no caminho do tropeirismo, o bandeirante português Antônio Raposo Tavares chega nas terras sul-rio-grandenses. Um dos objetivos de expedições como essa era o de expulsar os jesuítas espanhóis que já tinham criado vários povos nas missões. Mas tinha mais alguma coisa escondida nas sucessivas batalhas, além de guerreiros. Dionizio Cerqueira dá a pista: “Não era muito raro ouvir-se depois do toque de silêncio, o choro de uma criança que nascia”, se referindo a mulheres negras presentes nas guerras do Sul. (ENNES, 1991)

Para os cientistas, estudar as etnias africanas presentes no sul é instigante porque muitos dados foram perdidos, pelo próprio contexto da época da escravidão. É provável que os negros tenham chego no Rio Grande do Sul logo nas primeiras investidas dos portugueses no Estado. É só deduzir que onde tinha tropa portuguesa tinha africano para trabalhar. Há muito que se descobrir, mas a unanimidade aponta que Bantos, Jejes e Iorubanos – Nagôs, entre outras etnias africanas, fizeram história no Rio Grande do Sul. (SILVEIRA, 2000).

Em 1680, a criação da Colônia do Sacramento intensificou a vinda dos colonizadores para a região. Entre uma guerrilha e outra, portugueses e espanhóis precisavam descansar. Há quem tenha coragem de dizer que muitas mulheres negras foram trazidas do Rio de Janeiro para a região de Rio Grande, com o objetivo de divertir os homens brancos. As populares crioulas, também eram conhecidas como chinas, cafetinas, prostitutas e pervertidas que induziam suas vítimas – ou seja, os homens – ao pecado. Chamavam a atenção pela sua pele escura - ou cor de cuia - e desafiavam a ordem e os bons costumes. Na verdade, mulheres negras que já mantinham um certo controle social.

NEGRA RAINHA

Por volta de 1750, o Rio Grande do Sul foi envolvido pelo amor de um negro e de uma negra. É um assunto do passado, mas ainda surpreende os estudantes no presente. Viamão foi a primeira capital gaúcha e palco para o romance de Inácio e Margarida. Esse amor dá origem à cidade de Santo Antônio da Patrulha: Inácio José de Mendonça e Silva, pardo-forro de Santo Antônio e Margarida Exaltação da Cruz - parda-forra de Viamão - fundam a Capela Curada de Santo Antônio da Patrulha, em 1760, dando início à vida administrativa de toda a região norte-litorânea do Rio Grande do Sul assistida pela capela – local fortemente marcado pelas culturas açoriana e africanas. (LAUCK, 2006)

A Congada do município de Osório, mantida pelo Terno de Maçambique no litoral gaúcho, é uma tradição africana de origem angola-conguense. Faz referência à coroação da Rainha Ginga e do Rei do Congo, numa grande festa no Rio Grande do Sul. Na África, em 1622, Nginga Nbandi (Ginga) foi coroada junto com o Rei do Congo, mas acabou morrendo ao defender seu reino em guerras étnicas na região. A história foi preservada pelos afro-gaúchos na celebração anual. Por mais que a figura masculina seja a mais exaltada no festejo, nada tira o brilho da Rainha. Na verdade, o Maçambique – grupo afro-católico – preserva as memórias dos ancestrais, realizando uma festa carregada de entrosamento entre a cultura africana e luso-portuguesa. (SILVEIRA, 2006).

NEGRA ESCRAVA

Os africanos e afro-brasileiros entram em massa no Rio Grande do Sul com o apogeu do charque. Em 1780, José Martins abandonou suas terras no Ceará e veio empresariar o charque na região sul. Durante os cem anos seguintes, as indústrias de secagem e salga de carne bovina enriqueceram o Estado. As linhas de produção do charque, os trabalhos agrícolas e domésticos nas charqueadas contaram com o suor de 30% da população de Pelotas: negros e negras escravizados. Dizer que as mulheres negras não estavam nesse processo é mentira pura. Pode-se sim, ressaltar que a maioria dos viajantes não dava visibilidade a elas, em seus registros de viagens que inspiraram a história do Brasil. O negócio ficou interessante e muitas outras fazendas de charque surgiram em solo gaúcho, utilizando a comunidade negra - motor de crescimento econômico do RS. (SOARES, 2006)

Como um novo mundo é possível, o lucro gerado com o charque teria sido usado, principalmente, para recriar a arquitetura e cultura européia em solo gaúcho. E, impreterivelmente, trazer açúcar do nordeste para os doces pelotenses. Qualquer um que visite Pelotas poderá conferir a “pose” de pólo cultural que a cidade tem. Também não poderá partir sem comer os famosos “Doces de Pelotas”. A elite saladeiril importava muitas receitas de Portugal, para se deliciar. Mas é evidente que as mulheres negras punham a mão na massa, dando um toque especial – africano - ao sabor.

NEGRA QUILOMBOLA

Era de se esperar que os africanos quisessem – e conseguissem – fugir dos maus tratos, próprios da escravidão. Em cada fuga, os quilombos absorviam novos irmãos de cor. Alguns quilombos gaúchos foram iniciados por mulheres negras – quilombolas - que fugiam pelas campanhas, pampas, vales, serras e montanhas do sul para ganharem seus bebês em terras livres. Quando a abolição deixou vários africanos e afro-brasileiros em condição de exclusão social, alguns também se refugiaram em comunidades quilombolas (5).

Em 2006, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Superintendência do RS - registra informações de mais de 170 Comunidades Negras Remanescentes de Quilombos no Rio Grande do Sul – rurais e urbanas - muitas delas ainda não identificadas, reconhecidas ou tituladas. São comunidades com 180 anos de ocupação ou mais e, a maioria, há 120 anos valendo-se do quilombo como espaço de resistência negra. Várias comunidades vivem, ainda hoje, sem escola e posto de saúde nas proximidades, sem saneamento básico, sem luz elétrica e sem receber os benefícios dos governos – de direito para as comunidades carentes socialmente. (RUBERT, 2005)

Em 1809, todo território gaúcho era dividido em apenas quatro municípios: Rio Grande (fronteira sul, campanha e litoral sul), Rio Pardo (fronteiras noroeste e oeste, norte, missões, alto Jacuí e vale do Rio Pardo), Porto Alegre (centro-sul, região dos vales e serra) e Santo Antônio da Patrulha (Nordeste e litoral norte). Nos municípios estavam as colônias, vilas, freguesias, capelas e povoados que deram origem aos 497 municípios atuais. Existem comunidades de remanescentes de quilombos em várias das regiões citadas.

Os números mudam a cada investigação. Há mais de 10 quilombos na Região Metropolitana, incluindo os 4 quilombos urbanos de Porto Alegre; 3 quilombos próximos à região das Missões; 2 na serra; cerca de 4 na região norte; 10 nas proximidades da fronteira com o Uruguai; e a maioria dos quilombos está localizada na região da campanha, central e litorânea. O programa Brasil Quilombola, coordenado pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR) em parceria com outros órgãos de governo estaduais e municipais, toma providências para que os quilombos recebam infra-estrutura, eletrificação, saneamento básico, escolas, atendimentos de saúde e realizem um desenvolvimento econômico e sustentável, pela geração de renda e participação social.

O Quilombo dos Silva, localizado num bairro nobre de Porto Alegre – atrás do Colégio Anchieta, no Bairro Três Figueiras - é um símbolo de resistência quilombola na atualidade. À frente da associação do quilombo, as mulheres negras garantem a sobrevivência da comunidade. O quilombo tem 6,5 mil metros quadrados, que eram cheios de árvores centenárias. Hoje restam ¼ da área preservada, pois os arredores estão sendo engolidos pelos prédios luxuosos erguidos a sua volta. Em 2003, a certidão de auto-reconhecimento como comunidade quilombola foi concedida pela Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura. Em 2005, o Incra assinou a Portaria que declara a área como território de remanescentes de quilombo e delimita seu perímetro. Em 2006, o governo federal considerou a área – do primeiro quilombo urbano reconhecido no Brasil - de interesse social, comprometendo-se a dar andamento ao processo que dará o título de posse da terra para a Família dos Silva. Oxalá.

NEGRA TRADICIONALISTA

Em museus do Estado acham-se ilustrações e fotografias que retratam as mulheres africanas e afro-brasileiras, em várias épocas no Rio Grande do Sul. Então, a existência de mulheres afro-gaúchas é real, também entre 1835 e 1845 – durante a Revolução Farroupilha. Não estamos dizendo que elas estavam nas guerrilhas – tem que investigar – mas estavam em vários anúncios de jornais gaúchos desse período.

Nessa imprensa gaúcha é possível encontrar: negociações de compra, venda e aluguel – de escrava/criança, amas-de-leite, cozinheiras, costureiras, engomadeiras, etc; muitos avisos de fuga - cujo resgate previa recompensa; e prisões de negras feiticeiras - manipuladoras de forças sobrenaturais. Mesmo que sem intenção maldosa, a letra do hino-riograndense, de autoria de Francisco Pinto da Fontoura, ainda diz: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Em muitos eventos, o Movimento Negro gaúcho canta: "povo que é força e virtude a clava quer ver escravo", de autoria de Oliveira Silveira.

Ainda, no Memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, pode-se ter acesso a fotos do solar da família de Bento Gonçalves, em Camaquã – onde mulheres e crianças negras se fazem presentes. Mas o que as mulheres negras estariam fazendo enquanto os Lanceiros Negros participavam da guerra farroupilha? Arrisco uma resposta: suando a camiseta – por vezes esfarrapada – para garantir a sobrevivência da descendência negra gaúcha, também enquanto acontecia o episódio em Porongos.

No dia 14 de novembro de 1844, os inimigos atacaram o exército farroupilha de surpresa no Cerro de Porongos – na região de Pinheiro Machado, ao Sul do Estado. O alvo eram os Lanceiros Negros – negros das tropas farroupilhas. Ocorre que os soldados brancos e índios foram avisados a tempo de fugir, já os Lanceiros Negros – massacrados, haviam sido desarmados na véspera do acontecido. Os recente estudos sobre o caso demonstram que esse dilema está presente na identidade gaúcha. No fim das contas, é bom pensar que as várias histórias de guerra no Rio Grande do Sul merecem ser (re)contadas, também do ponto de vista das mulheres negras. (HASSE, 2005)

A partir da década de 40 do séc. XX, começaram a se multiplicar no Rio Grande do sul os Centro de Tradições Gaúchas (CTGs). O movimento tradicionalista – mesmo os mais convencionais – admitem a comunidade negra em seus galpões. Isso não significa dizer que sempre foi assim. Claro que não. Quando os negros demonstravam interesse em também cultivar as tradições, eram barrados nos bailes. Para avançar na construção da identidade afro-gaúcha, os negros criaram seus próprios CTGs, como o famoso Lanceiros de Canabarro da cidade de Alegrete. (GIANEZINI, 2006)

NEGRA LIVRE

Quem não conhece o episódio clássico da abolição da escravatura brasileira - Lei Áurea/1888, da Princesa Isabel. Mas a verdadeira história é bem mais abrangente, pondo em questão aspectos econômicos, religiosos, políticos, culturais e sociais. De olho na expansão industrial – que substitui a mão humana pelo toque da máquina -, a Inglaterra iniciou uma grande campanha para o fim do tráfico negreiro transatlântico. Meta inglesa: modernizar o mundo. Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu a entrada de novos africanos escravizados no país. O brasileiro "deu um jeitinho" e intensificou migrações internas - do Oiapoque ao Chuí.

O Brasil, cuja economia depende do trabalho negro – inclusive o das mulheres negras - foi o último país das Américas a libertar os escravos, em 1888. A cidade de Natal (Rio Grande do Norte), diz ter abolido dez anos antes. O estado do Ceará aboliu em 25 de março de 1884. E, em 9 de setembro de 1884, a Câmara Municipal de Porto Alegre passa a chamar a várzea de Campos da Redenção – Parque da Redenção. Local onde os escravos foram libertados.

Livres, as mulheres negras tinham somado os conhecimentos das técnicas usadas no continente africano com as experiências de trabalho adquiridas no Brasil. Sem nunca desistir de seus ideais de superação, buscaram alternativas no novo cenário operário que incluía os imigrantes europeus e excluía os descendentes da África Negra. As lembranças de outras leis ajudam a entender a (difícil) luta das mulheres negras em promover a ascensão da comunidade negra.

Nos tempos anteriores, havia a Lei dos Sexagenários, de 1885, que libertou africanos e afro-brasileiros com mais de 65 anos de idade. E antes mesmo, havia a Lei do Ventre Livre, de 1871, que libertou os filhos e filhas de africanas e afro-brasileiras escravas que nascessem após essa data. E, na teoria, os negros e negras passam a serem considerados cidadãos em 15 de novembro de 1889 – com a República. O irônico é descobrir que vários direitos das cidadãs negras não são respeitados. Então, como muitas mulheres negras já tinham fugido para quilombos e tantas outras já eram livres - por terem comprado suas cartas de alforria ou terem sido libertas por seus patrões -, várias mulheres negras trabalhavam para comprar terras, amparar irmãos doentes, financiar revoltas, comprar alforrias, patrocinar a alfabetização, criar escolas, manter casas de religião de matriz africana, entre outras ações de proteção das tradições negras.

NEGRA AXÉ

Muitas das certezas – e incertezas – sobre o futuro dos africanos e afro-brasileiros sempre se deram sob o prisma da exclusão. Lembremos o caso da Colônia Africana de Porto Alegre. Não dá para acreditar, mas – em 1884 – quase ninguém (não-negro) queria morar nos bairros Cidade Baixa, Bom Fim, Rio Branco, Mont Serrat – até o atual bairro Três Figueiras. Era tudo mato, com poucas infra-estruturas sanitárias, elétricas e locomotivas. Principais moradores no passado, ao serem “soltos” no parque – na redenção - plantaram árvores nas vastas áreas e foram reconstruindo suas vidas nessas regiões, que registravam um grande número de casas de religiões de matriz negro africana.

A espiritualidade sempre foi porto seguro para as mulheres negras. Elas recorrem as forças espirituais para manterem sua dignidade. Cheias de Axé, ajudam a comunidade negra a superar as angústias e dificuldades das constantes adaptações as quais o povo negro vem sendo exposto ao longo dos séculos. Ou seja, de livre africano até ser escravo no Brasil, de escravo brasileiro até ser o afro-brasileiro livre.

Em suas casas, mulheres negras cultuavam deuses – africanos – e recebiam santos e mortais. Aos poucos a urbanização da região foi valorizando os terrenos. A especulação imobiliária foi descaracterizando a Colônia Africana de Porto Alegre. Pretos e pardos vendiam seus terrenos acreditando em dias melhores, sendo deslocados socialmente para as periferias da cidade. Fato que ainda acontece em muitos municípios gaúchos.

Infiltradas na sociedade brasileira, há muito tempo, desregulam a hegemonia da Igreja Católica Romana. A maioria da população do Brasil se diz católica, mas as (pré) visões, as danças e as músicas das Religiões de Matriz Africana seduzem negras e não-negras. Boa parte esconde, mas - mesmo as de outras doutrinas – recorrem à magia, aos búzios e às cartas das Ialorixás. No Rio Grande do Sul, fala-se em várias tradições de matriz negro-africana. É o Batuque, as Nações Oyó, Jeje, Ijexá, Cabinda, Nagô, Umbanda e Linha Cruzada. (SILVEIRA, 2000).

Para entender as mulheres negras, é preciso primeiro compreender o mundo dos seus ancestrais. Uma dica: parta do repertório da mitologia africana. Então, vai ser surpreendente poder identificar as várias faces da mulher negra nos Orixás femininos. As fascinantes descrição de Iemanjá, Oxum, Iansã, Nanã, Oba, Oya e Oxumarê (orixá feminino e masculino ao mesmo tempo), entre outras deusas africanas, tem muito a dizer sobre as mulheres negras gaúchas.

Mas não se esqueça: a unanimidade espiritual não ocorre entre as mulheres negras. Basta lembrar das devotas de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia, entre outros, que se organizavam em Irmandades ou Confrarias ajudando muitos escravos, forros e livres. Sem deixar de falar nas que escolheram o caminho de outras profecias e filosofias: Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo, Bahai, Cristianismo, Igreja Luterana, Igreja Anglicana, Igreja Batista, Igreja Metodista, Adventistas, Pentecostais, Assembléia de Deus, Legião da Boa Vontade, Universal do Reino de Deus, Testemunhas de Jeová, Mórmons, Espiritismo Kardecista, Cabala, Nova Era, Seicho-no-iê, Maçonaria, Astrologia, entre muitas outras fés, para se (re) ligarem ao infinito.

NEGRA EXCLUSÃO

Adaptação é a palavra de ordem das afro-brasileiras. Exclusão se vence com criatividade: quem pensa que a negrada se entrega fácil, está enganado. É assim: se não deixam a negrada cultuar, convertem mais e mais adeptos às religiões de matriz africana; se não deixam a negrada entrar, fazem seus próprios clubes, CTGs, escolas; se não deixam a negrada trabalhar nas instituições, produzem em casa, para vender nas ruas; se não deixam a negrada se comunicar, fazem uma imprensa negra alternativa; e se não deixam a negrada progredir, implantam políticas públicas de ações afirmativas, garantindo o futuro de toda a comunidade negra gaúcha. E se tudo isso não adiantar, a negritude se impõe e conquista outros espaços – no grito.

Além dos quilombos, os Clubes e Sociedades Negras também se tornaram espaços de resistência. Muitos deles iniciaram suas atividades nas residências de pessoas da comunidade negra que, por terem um espaço amplo, promoviam bailes. Depois vinha a luta para conquistar um prédio e ainda mais tarde a vitória de ter uma sede própria.

O Rio Grande do Sul registra a existência de mais de 50 Clubes Negros - sociedades recreativas, educativas e culturais – algumas centenárias, outras extintas. Só para ilustrar citamos: Clube Náutico Marcílio Dias, Sociedade Nós os Democratas, Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, Associação Satélite-Prontidão (Porto Alegre); Clube Recreio Operário, Sociedade Estrela do Oriente (Rio Grande); Clube Fica Ahi Pra Ir Dizendo, Clube Chove não Molha e Sociedade Depois da Chuva (Pelotas); Sociedade Visconde do Rio Branco (Passo Fundo); Clube José do Patrocínio (Osório); Sociedade União Familiar, Sociedade Cultural Ferroviária 13 de Maio (Santa Maria); Sociedade Floresta Montenegrina (Montenegro); Sociedade Rui Barbosa (Canoas); entre muitos outros(6). Nas dependências dos clubes funcionaram escolas de alfabetização e profissionalizantes, além de muitos blocos de carnaval dos clubes acabaram se tornando Escolas de Samba ou muitos blocos tornaram-se clubes sociais negros.

Há pelo menos 100 anos, as mulheres são fundamentais nos clubes sociais negros: organizam almoços – para angariar fundos para a promoção da comunidade negra; preparam bailes para as meninas de 15 anos, concursos de rainhas – com seus blocos – concursos de rainhas infantis - com suas cortes de crianças; patrocinam cursos de culinária, costura, eventos teatrais, literários, exposições de arte, etc; e, principalmente, incentivam a educação e profissionalização de negros e de negras, ministrando aulas nos prédios dos clubes e sociedades, buscando bolsas estudantis e de capacitação para os associados.

A dedicação, também das mulheres negras, fez com que os clubes sociais negros fossem reconhecidos pelo seu prestígio social, impulsionando a ascensão de uma parcela da população afro-brasileira – mesmo que mínima – que se tornou a elite negra gaúcha. Atualmente, com recursos governamentais e da iniciativa privada, os clubes sociais negros estão se transformando em museus e pontos de cultura, para a preservação da negritude.

Como já dissemos, muitos blocos de carnaval nasceram em clubes e sociedades negras. E não há dúvidas, desde então as mulheres negras são as rainhas do carnaval. Antes, durante e depois das festividades apoiam aos foliões, fazem fantasias, preparam mantimentos e curam as ressacas. E de quebra, requebram e brilham nas passarelas.

Até 1950 e 1960, os homens podiam tudo no carnaval, mas as mulheres não. Até se vestiam – e ainda se vestem – de mulher. Ao que parece, as mulheres negras eram monitoradas pelos olhos da moral, nas festas de carnaval. Mas nada as impedia de exaltar o feminino através da dança. Em Porto Alegre, um dos grupos mais tradicionais era As Heroínas da Floresta, da Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora, considerado o clube negro mais antigo do país, em atividade desde 1872.

O carnaval gaúcho tem história centenária em vários municípios (7) do interior do Estado, principalmente em locais onde existiam mais africanos e afro-brasileiros. É como a música e a jinga no pé são a marca dos afro-descendentes, o parâmetro do carnaval ficou muito mais alucinante – e interessante - depois da influência do batuque do samba e da presença das mulheres negras no carnaval brasileiro.

Por trás dos encontros festivos, estavam os intelectuais negros divulgando em jornais – de uma imprensa alternativa negra - as dificuldades a serem superadas por todos. No exercício de elaboração da identidade negra, ao longo dos anos, os afro-gaúchos publicaram jornais como: O Exemplo (Porto Alegre, 1892-1930, num total de 37 anos de publicação), A Cruzada (Pelotas, 1905), A Alvorada (Pelotas, 1907- 1910, 1930 – 1937 e 1946 – 1957), A Navalha (Santana do Livramento, 1931), A Revolta (Bagé,1925), A Hora (Rio Grande, 1917-1934), entre outros. (SANTOS, s/d)

Mulheres negras eram colunistas em alguns jornais, editados para dar visibilidade a causa negra, num contraponto a invisibilidade das pautas de valorização da comunidade negra na grande mídia brasileira. Em 1933, A Frente Negra Pelotense (FNP) foi fundada, intensificando a representação política da comunidade negra gaúcha. Muitos dos propósitos da FNP foram fortalecidos nos diálogos com a Frente Negra Brasileira (FNB). A FNB foi o primeiro e único partido político negro da história do Brasil. Criada em 1931 em São Paulo e desmontada pela ditadura do Estado Novo em 1937 (8), a FNB mantinha o jornal A Voz da Raça cujo lema era: “A emancipação dos negros tem que ser obra dos próprios negros”. (SANTOS, 2003). O jornal A Alvorada de Pelotas noticiou muitos ideais e idéias da FNP e também abriu espaço para as mulheres negras. Valendo-se do jornal, elas lutaram pela educação da população negra, em várias colunas do jornal. (SILVA, 2001).

Muitos outros periódicos surgiram, com a marcante presença das mulheres negras na divulgação das idéias, como, por exemplo: informativos de clubes e sociedades negras; o Tição (Revista em 1978 – 1979 e Jornal em 1980), Jornal Como é (1995 – 1998) e Revista Conexão Negra (a partir de 2003), do Cecune - Centro Ecumênico de Cultura Negra. Em 2001, comunicadoras negras de alguns desses periódicos criaram o Núcleo de Comunicadores Afro-Brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. O núcleo pauta várias demandas sobre as questões étnicas nos meios de comunicação e no mercado de trabalho, diretamente ligadas à população negra.

É importante lembrar que as mulheres africanas foram introduzidas na sociedade brasileira, deixando seu cantarolar e sua oralidade marcados na literatura brasileira e na língua portuguesa. São muitos os mitos encantados e os sons reinventados inspirados na África. Também em solo gaúcho, o tema negro permeia as várias obras da literatura negra e do teatro negro de artistas do Rio Grande do Sul. As artes acompanham as mulheres negras desde a época dos quilombos, da criação dos clubes negros, da publicação da imprensa negra e da intervenção das frentes negras de cunho político. Com isso, o Estado gaúcho registra várias representações e representantes femininas em muitas expressões das artes, diversas delas tornam-se veículo de denúncia sobre as condições da comunidade negra.

Só para enriquecer a leitura: na década de 20, o Centro Dramático do Floresta Aurora promovia vários eventos. Na década de 60, existiu o premiado Teatro Saci e a montagem do Orfeu interpretada pelo grupo do Clube Marcílio Dias, no Teatro São Pedro de Porto Alegre.

Outra expressão artística – denúncia – é o Hip Hop. Em 1929, o Hip Hop (saltar movimentando os quadris) tornou-se um movimento social – protesto - de afro-estadunidenses desempregados, que passaram a fazer shows de Break (dançar com movimentos quebrados) nas ruas dos Estados Unidos da América. Em 1960, o Hip Hop teve influência jamaicana, incluindo as figuras do RAP (ritmo e poesia) e do MC (mestre de cerimônia), que fazia discursos de ação política entre uma música e outra, refletindo sobre as condições de vida da maioria negra. O Graffiti enriquece o Hip Hop, com desenhos coloridos, também com temas sociais.

Mulheres negras também tem voz em documentários como: DOC “Ilha Negra”, sobre as congadas da comunidade da região de Osório-RS - Terno de Maçambique; DOC “O Príncipe Negro”, que resgata a vida do Príncipe Custódio na coleção Histórias Extraordinárias da RBS/TV; DOC “Brasil: Eterno Quilombo?”, dirigido por Julio Teixeira, premiado no Festival de Gramado e no EXPOCOM. Meninas negras do Hip Hop gaúcho, também dão seu grito na mídia, em programas como o Hip Hop Sul da TVE e Confraria Castro Alves, da TV Assembléia (Canal 16 da NET), que está no ar desde 2005.

INCLUSÃO NEGRA

Aos olhos de muitos, a igualdade está em todo o lugar. Mas aos olhos atentos das mulheres negras, muitos estudos têm demonstrado que a educação ainda não tem divulgado a verdadeira história dos africanos e afro-brasileiros. Os livros didáticos não privilegiam o ponto de vista dos negros das tradições gaúchas, que são carregadas de conquistas e vitórias negras.

No Brasil, em 1835 leis determinavam a proibição de escravos freqüentarem a escola, ora, os escravos eram os africanos e os afro-brasileiros. Com a Lei do Ventre Livre de 1871, os patrões deveriam mandar ensinar a criança negra - filhas de mulheres escravizadas - a ler e a escrever. Cumprir a lei é que foi o problema, pois muitos estabelecimentos de ensino negavam-se a matricular os “de cor”. (PEREIRA, 2005).

Um exemplo – exemplar - como diria o poeta é do Instituto São Benedito em Pelotas, fundado em 1901 pela "Mãe Preta" Luciana de Araújo. As aulas eram ministradas por mulheres negras, voluntárias que ensinavam às meninas negras pobres. A peregrinação pelas ruas da cidade, para recolher donativos, era a forma de manutenção da escola. O instituto ainda está ativo. (SILVA, 2001)

Incapacidade, submissão, feiúra, burrice, preguiça, personificação do mal, entre outras imagens negativas, precisam ser descartadas dos livros. A imagem do negro rico, doutor e vencedor é pouco explorada, comprometendo a auto-estima e auto-imagem de crianças e jovens negros. Mesmo com a luta das mulheres negras pelo respeito à imagem da comunidade negra nos materiais didáticos, muitos livros insistem em dedicar um capítulo inteiro para falar só de escravidão negra no Brasil.

Em resposta à luta secular do povo negro, o governo lança a uma regra geral inédita: a Lei 10.639, amparada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. A Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. As diretrizes curriculares pertinentes a lei, cuja gaúcha Profa. Dra. Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – conselheira do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno/DF – é relatora, visam atender os propósitos expressos na lei. Juntas têm transformado o cenário da educação no Brasil. (MEC/SECAD, 2006)


NEGRA É LINDA

Mas será que os afro-brasileiros são apenas fenômeno nos esportes ou famosos nas várias expressões de dança e música? Não. A exaltação da beleza negra chega para romper com as várias imagens estereotipadas da comunidade negra do Brasil. A “Raça Negra” em alta leva as indústrias de cosméticos a dedicarem uma “cota” para o lançamento de produtos para a pele e o cabelo das mulheres negras. A mídia também tem feito a sua parte – comercial – divulgando tais produtos. O sorriso negro, o abraço negro – como diria o poeta – chega para ditar novas tendências da moda. É a pura expressão da cultura afro-brasileira abalando as nações.

MIMO NEGRO

“O andar bamboleante, gingado não significa convite ao sexo ou luxúria, mas orgulho do corpo, a demonstração da perfeição das formas, a certeza de que este lhe pertence e que é bonito sem perversão ou pecado.

A espontaneidade nos gestos e no falar, o riso largo e farto, não são falta de educação, mas a demonstração de se saber vivo e em paz consigo mesmo, com os ancestrais e com os Orixás. É comemoração do ser/estar hoje e não ser/estar amanhã, mas permanecer sempre presente nas coisas que deixou, falou e realizou.

O gosto pelas cores vivas, alegres, vistosas das vestimentas não é mau gosto ou espalhafato e sim representações simbólicas da natureza colorida e festiva. É homenagem as 4 estações presentes e vivenciadas no dia-a-dia.

O cantarolar constante, a música ritmada, os instrumentos de percussão não são sinônimos de barbárie ou desconhecido de teoria musical, mas antônimos de morte, tristeza, de silêncios não existentes na natureza. É a sinfonia pura das matas virgens, das corredeiras e cascatas, da fauna liberta.

O tocar, o “o cheirar”, o “apalpar” não significa falta de higiene ou libidinagem, mas carinho, prazer pela proximidade do outro. É “amar o próximo como a si mesmo”. As comidas picantes, gordurosas, afrodisíacas, arcoirizadas, não visam “cirrozear” o fígado, mas apetecer as glândulas salivares e erotizar a íris. É o “comer” nos sentidos real, figurado e imaginado.

O nariz grosso, a boca carnuda, a cor da pele e o cabelo crespo não são marcas comparativas e referenciais para formulações de padrão de beleza/fealdade ou de superioridade/inferioridade em relação ao outro, mas identificação estética, demarcadora da diferença étnica/racial das sociedades humanas.

A poesia ignorada; a pintura, a escultura e a arquitetura manietadas e destruídas; a literatura ridicularizada; as tradições folclorizadas; as línguas emudecidas; a religião endemoniada, não foram arquitetadas pelo Supremo Criador, mas idealizadas e ideologizadas por seres humanos com a intenção de matar, não a vida vivida, mas a vida perpetuada pelo imaginário, a vida na vida.
(José Barbosa da Silva Filho)

O Professor José Barbosa da Silva Filho não foi entrevistado, mas o texto de sua autoria transcrito anteriormente merece ser citado na íntegra. As afirmações são fruto da aula “O negro na história” – ministrada no Programa de Estudos sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PNESB), da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, em 2006 (EAD). Suas reflexões são aproveitadas pela comunidade negra na (re)construção da auto-estima, também das mulheres negras gaúchas.

NEGRAS EM MOVIMENTO

Vários pensadores destacam que o Movimento Negro é o movimento social mais antigo do Brasil, em alusão à resistência dos africanos na República de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas. O Quilombo dos Palmares foi fundado em 1600, por africanos fugidos das fazendas de engenhos de açúcar de Pernambuco. Em 1655, num dos mocambos de Palmares, nasce Zumbi. O quilombo é invadido várias vezes e, numa dessas os soldados capturam Zumbi. O entregam aos cuidados do Padre Antônio Melo, que lhe ensina a ler muitos livros, inclusive em latim. Em 1670, Zumbi foge do padre e retorna para Palmares. Líder, passa a lutar pelo ideal de liberdade de todos os escravizados, não apenas os habitantes do Quilombo dos Palmares. Em 20 de novembro de 1695 é preso e degolado. A abolição da escravidão no Brasil só sai em 1888 (9).

Em 1971, Ano Internacional para Ações de Combate ao Racismo e a Discriminação Racial instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), a imprensa gaúcha abre espaço para a divulgação da primeira evocação no Brasil do dia 20 de novembro. Uma manifestação do Movimento Negro gaúcho, em alusão ao dia da morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi. O ato do Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971, foi celebrado por homens e mulheres no Clube Náutico Marcílio Dias. A criação do grupo e a escolha da data, estudada e sugerida pelo gaúcho Oliveira Silveira, foi fruto de encontros de negros na Rua da Praia (Rua dos Andradas), na capital. A partir de 1978, outros Estados passsaram a celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra. Em 2003, a data passou a fazer parte do calendário escolar com a implementação da Lei 10.639/03.

Esses marcos históricos renovam as forças das mulheres negras organizadas. Ao longo dos tempos, as mulheres negras gaúchas ficam intrigadas com algumas organizações feministas que dão ênfase ao gênero, mas não se sensibilizam com a causa étnico-racial – negra. Então, elas reclamam, passam a serem respeitadas, e são incluídas no movimento feminista, garantindo vários direitos também para as mulheres negras. Com o apoio de mulheres representantes de vários países do mundo, no I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 25 de julho de 1992, em Santo Domingo/República Dominicana as mulheres aclamaram o "Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha", apontando medidas para inibir as desigualdades nas Américas e Caribe.

O primeiro passo da ONU foi estabelecer o 25 de julho o “Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe”, marco internacional que desencadeou vários estudos sobre as condições de vida das mulheres negras, também no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, Nelma Soares da ACMUN (Associação Cultural de Mulheres Negras do RS) foi a mulher negra que impulsionou as discussões, comemorando o 25 de julho, no Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência no RS (Sindisprev), em 1993. Desde então, a ACMUN faz campanha para divulgar a data com o slogan: “Dia da Mulher Negra – Senhora de Todos os Espaços”. Esse e vários outros encontros servem de momento para reflexão sobre o papel das mulheres na promoção da comunidade negra.

Exatamente porque há um fator de desigualdade econômica – e, portanto social – que penaliza mais as mulheres negras, é impossível não abordar a questão étnico-racial nas políticas propostas por todas as instâncias dos governos brasileiros. A opinião das mulheres negras tem valor nas discussões que envolvem questões como: a pobreza, a educação, a capacitação das mulheres, a saúde, a violência, os conflitos armados, a política, os direitos humanos, o meio ambiente, as meninas mulheres, as mulheres e a mídia, entre outros assuntos. Todos remetem às conquistas almejadas na área da economia, principalmente viáveis através do mercado de trabalho, que impulsiona para a dignidade social.

As más línguas falam que não existe racismo no Brasil. Pasmem. Diversos relatórios sociais trazem dados sobre as desigualdades que atingem diretamente as mulheres negras – numa projeção do racismo à brasileira. Em 2004, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicaram um banco de dados eletrônico que reúne mais de cem indicadores sociais sobre raça e cor no Brasil, nas cinco grandes regiões e nos Estados: é o Atlas Racial Brasileiro. Baseadas nesses e em outros dados, que são atualizados a cada pesquisa, as ativistas negras passaram a propor a instalação de observatórios de racismo nas Américas, a criação de políticas anti-racistas e reparações econômicas para a população negra, que não recebem PL - participação nos lucros – há séculos.

O “Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 — Racismo, pobreza e violência", elaborado pelo PNUD, diagnosticou que o percentual de homens negros que tinham concluído o ensino superior em 2000 (2,7%) era inferior ao de homens brancos em 1960 (3%), num período que não seriam mais admitidos 40 anos de desigualdade. Em 2006, o Instituto Ethos divulgou que o Brasil teria que investir R$ 67,2 bilhões para elevar os indicadores sociais dos negros a patamares semelhantes aos dos brancos nas áreas de educação, habitação e saneamento, na pesquisa “O custo do racismo”. O economista Mario Theodoro, responsável pela pesquisa, diz que o valor é menor que o patrimônio atual do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que ultrapassa a R$ 100 bilhões.

O movimento de mulheres negras brasileiras tem feito a ONU refletir sobre as metas propostas pelas Nações Unidas nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Dizem que se as diferenças sociais e econômicas, entre brancos e negros não forem reduzidas no país, em curto prazo, o Brasil não alcançará os ODM até 2015.

Estudos apontam que, quando comparadas às mulheres brancas: as mulheres negras vivem menos – são as maiores vítimas de assassinatos, de violência doméstica e são vulneráreis na área da saúde; têm salário menor – são a maioria das domésticas e a minoria nas grandes empresas, recebem salário inferior a mulher branca, mesmo desempenhando as mesmas atividades; são o grupo com maior índice de analfabetismo – mas têm significativo ingresso no nível superior; mesmo com salário reduzido, a maioria são as chefes da família negra; são as mais pobres, as mais desempregadas, as com pouca representação política e tem menos acesso a serviços de qualidade; em resumo, têm seus direitos violados em várias áreas.

Cotas para os afro-brasileiros têm sido o assunto mais polêmico dos últimos tempos. São inspiradas nas “ações afirmativas” estadunidenses. A medida foi implantada pelo Presidente dos Estados Unidos, Jonh Kenedy, em 1963, para garantir os direitos civis dos 12% de afro-estadunidenses. Essas ações servem para eliminar os efeitos persistentes (psicológicos, culturais e comportamentais) das atitudes contra os negros na época da escravidão, perpetuados em diversas estruturas da sociedade até os dias atuais. (PEREIRA, 2005). Nesse processo, o movimento negro - e as mulheres negras - entenderam que não dá para ficar esperando a boa vontade humana: tem que se instituir políticas públicas que garantam a inclusão social da população negra.

O Brasil tem a maior população negra fora da África, e como já vimos, excluída ao longo da história do país. Provisórias, as cotas precisam garantir, por exemplo, a ascensão de mulheres negras em cargos de poder. Pautando a causa negra no legislativo, no executivo, no judiciário e na mídia, elas podem garantir os direitos humanos e a aplicação das políticas públicas para a comunidade negra gaúcha.

“NEGRA” TEMA

Todas essas idéias polêmicas – arroladas durante o capítulo – dão a entender que “alguém” passou muito tempo escondendo o jogo sobre a vida e a obra das mulheres negras gaúchas. Mas uma coisa é inegável: novas investigações são urgentes. As opiniões nunca serão unânimes – é a liberdade de expressão – mas a ousadia de antropólogos, de sociólogos, de historiadores e, porque não dizer, de jornalistas será a mola propulsora dos novos tempos.

A mulher negra é mais do que um objeto de estudo. É ciência viva. Merece observadores de olhar apurado e cérebro afinado – visionário do que os outros não enxergam, acerca das etnias africanas no Rio Grande do Sul. Além do que, as várias faces das mulheres negras precisam de mais espaço nas estantes das bibliotecas e nos acervos das bibliotecas virtuais.

Seguindo esse raciocínio, o (re)descobrir da identidade da mulher negra gaúcha passa pelo reconhecimento: da história da Mãe África, anterior ao tráfico negreiro; das imagens positivas do continente africano e sua representação do feminino; da relação dos africanos com a natureza e a terra; da diáspora africana pelo mundo; da vida e obra de lideranças negras; da cultura ancestral dos vários grupos étnicos africanos que povoaram o Estado; e da contribuição do trabalho, também, das mulheres negras no acúmulo de riquezas do RS.

O exercício de elaboração da identidade sul-rio-grandense também deve contemplar o entendimento: da superação das condições de vida oferecidas, como as relações sexuais forçadas; do papel da mulher negra nas irmandades religiosas e religiões de matriz africana que influenciam a espiritualidade do gaúcho; da influência das negras na criação das crianças projetadas na linguagem e na literatura brasileira; da resistência social exercida pela população negra nos vários quilombos gaúchos; das guerreiras negras em solo sul-rio-grandense; da iniciativa da comunidade negra em criar escolas, alfabetizar adultos, mesmo com as restrições legislativas para a educação de descendentes de africanos; e da ascensão econômica do povo negro no Sul.

Aceitar as várias dimensões da mulher negra é conhecer: a história dos vários clubes sociais próprios do povo negro; a participação das mulheres negras na Imprensa Negra gaúcha, editada desde 1892 no RS; a emergência do Movimento Negro, principalmente o de mulheres negras sul-rio-grandenses; as manifestações literárias e artísticas; as expressões do samba, do carnaval, da capoeira, do hip-hop, do grafite, do esporte, dos mitos, das lendas, dos provérbios, das brincadeiras, dos jogos, da gastronomia, dos costumes, dos hábitos, etc. e sua relação com as demais etnias que compõem a identidade do Sul.

Mulheres negras da sociedade civil organizada como, por exemplo, as ONGs de Porto Alegre, Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras e ACMUN - Associação Cultural de Mulheres Negras do RS, ambas integrantes da AMNB - Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras, vêm realizando projetos sociais, pesquisas científicas e eventos para mapear a real situação da mulher negra no Estado. Os estudos dão ênfase aos Direitos Humanos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais pautados pela ONU aos direitos sexuais, direitos reprodutivos e temas ligados ao combate ao racismo, à violência contra a mulher e a saúde da mulher negra - principalmente o combate as DST - HIV e AIDS. Tais lideranças de mulheres negras têm influência na criação de políticas públicas, em várias secretarias – municipais e estaduais – para as mulheres negras e toda a comunidade negra do Estado.

Ainda há muito o que se descobrir. A pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas” não pôde dar conta de todo o universo das particularidades das mulheres de descendência africana no Sul, mas deve estimular mais e mais pesquisas que revelem a essência das mulheres afro-riograndenses.

NOTAS:

1. Sátira Pereira Machado é jornalista e coordenadora do Núcleo de Pesquisa das Etnias Africanas do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (2005-2006). As entrevistas com as mulheres negras foram realizadas por Charles Henrique Rosa dos Santos - graduado em História (FAPA). Jaqueline dos Santos – graduada em História (FAPA). Letícia Guimarães Araújo - estudante de História (FAPA), Manoela Ungaretti - estudante de História (FAPA) Lia Vaz, do Cabo Verde/África, - estudante de Ciências Sociais (PUCRS) e Sátira Machado. O capítulo completo, com as entrevistas, também está publicado neste Blog, a seguir.

2. As entrevistas transcritas encontram-se à disposição do público no acervo do Museu Antropológico do Estado do Rio Grande do Sul (www.mars.rs.gov.br). Muitas entrevistadas pediram sigilo sobre suas idades e uma pediu para não ser identificada. A riqueza do conteúdo das entrevistas merece ser explorada em novas pesquisas.

3. FONTE IBGE – Censo Demográfico 2000 – Variável = População Residente (Percentual); Cor ou Raça = Preta + Parda; Sexo = Mulheres; Situação do Domicílio = Total; Grupos de Idade = Total; Unidade da Federação = Rio Grande do Sul. www.ibge.gov.br (SIDRA – Censo Demográfico 2000 – Amostra - Características Gerais da População - Tabela 2093 - População residente por cor ou raça, sexo, situação do domicílio e grupos de idade – 20/11/2006)

4. www.abrasoffa.org.br

5. Comunidades Quilombolas – Quilombos - são grupos sociais integrados por descendentes de escravos negros fugitivos que formaram territórios independentes. Nessas comunidades, a liberdade e o trabalho comum passaram a ser símbolos de autonomia e diferenciação do regime escravista. A Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, ressalta que o Decreto Federal 4887, de 20 de novembro de 2003, consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos os grupos étnico-raciais com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida (www.palmares.gov.br).

6. www.clubesnegrosbr.blogspot.com

7. Pelotas, Uruguaiana, Santa Maria, Passo Fundo, Rio Grande, Cruz Alta, Santa Cruz, Caxias do Sul, Taquari, São Jerônimo, Charqueadas, Guaíba, Montenegro, Gramado, Santa Vitória, Encruzilhada do Sul, Estância Velha, Campo Bom, Tapes, Cachoeira do Sul, Alegrete, Carazinho, Lajeado, Itaqui, Canoas, Gravataí, Viamão, Novo Hamburgo, Esteio, Sapucaia, São Leopoldo

8.www,portalafro.com.br

9.www.vidaslusofonas.pt


SUGESTÕES DE LEITURAS

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APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

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domingo, 1 de abril de 2007

BIBLIOGRAFIA MULHERES

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"Mulher Negra na Bahia no Século XIX", da Profª Cecília Soares, do Centro de Estudos das Populações Afro Indígenas Americanas - CEPAIA, da Universidade do Estado da Bahia. 2007.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

ETNIAS AFRICANAS: MULHERES AFRO-GAÚCHAS

por Sátira Machado, coordenadora do Núcleo de Pesquisa - Etnias Africanas, do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul (2005/2006)
www.mars.rs.gov. br

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MAPA DO RS: A tonalidade mais escura indica os municípios
com maior percentual de Mulheres Negras no RS (Fonte IBGE/2006).

A PESQUISA

A equipe do Núcleo de Pesquisa – Etnias Africanas do MARS realizou a pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas”, parte integrante do projeto do Museu Antropológico do RS: “História, Memória e Tradição”, que tem por objetivo recuperar, proteger, preservar e divulgar as múltiplas faces das mais de 40 etnias que formam a identidade de gaúchos e de gaúchas do Rio Grande do Sul.

Num curto período, os integrantes da pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas", Charles Henrique Rosa dos Santos - Licenciado em História/FAPA, Jaqueline dos Santos - Estudante de História/FAPA, Letícia Guimarães Araújo - Estudante de História/FAPA, Manoela Ungaretti - Estudante de História/FAPA e Lia Vaz (Cabo Verde) - Estudante de Ciências Sociais/PUCRS realizaram entrevistas com o objetivo de dar voz às mulheres africanas e de descendência africana, valorizando o ponto de vista das mulheres negras acerca de suas histórias de vida e as inter-relações culturais, sociais, econômicas, lingüísticas, geográficas e biológicas com as demais etnias no Rio Grande do Sul, importantes para a formação da identidade da mulher gaúcha.

Para a efetivação do projeto, a pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas" utilizou o método qualitativo como referência, através de investigações documentais e de entrevistas em profundidade. Na pesquisa de campo, dá voz às mulheres que tragam visões de diferentes momentos históricos (20 mulheres negras, com mais de sessenta anos, entre trinta a sessenta anos e entre vinte e trinta anos). As mulheres negras entrevistadas (lideranças e membros da comunidade negra) são originárias de algumas cidades do RS com maior concentração dos descendentes das etnias africanas e, também, africanas residentes no Estado.

O percentual de mulheres negras no Estado é de 6,2%, segundo a Amostra das Características Gerais da População do Censo Demográfico 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Vale lembrar que, novas pesquisas tem revelado um percentual bem maior, a partir da autodeclaração mais consciente por parte dos afro-brasileiros.

Os municípios com maior número de mulheres negras têm entre 7 e 34% (pretas + pardas), são eles: Alegre, Alegria, Alvorada, Amaral Ferrador, Ametista do Sul, Arambaré, Bagé, Barra do Guarita, Barra do Quarai, Boa Vista das Missões, Bossoroca, Braga, Butiá, Caçapava do Sul, Cacequi, Campo Novo, Candiota, Caseiros, Ciríaco, Condor, Coronel Bicaco, Coxilha, Dezesseis de Novembro, Dilermando de Aguiar, Dom Pedrito, Herval, Erval Seco, Espumoso, Eugênio de Castro, Faxinalzinho, Fontoura Xavier, Formigueiro, Garruchos, Giruá, Gramado dos Loureiros, Gramado Xavier, Ibirapuitã, Itapuca, Itaqui, Jóia, Lajeado do Bugre, Lavras do Sul, Liberato Salzano, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Mostardas, Novo Tiradentes, Novo Barreiro, Palmeira das Missões, Pantano Grande, Pedro Osório, Pelotas, Pinheirinho do Vale, Pinheiro Machado, Pirapó, Pontão, Porto Alegre, Porto Xavier, Restinga Seca, Rio Grande, Ronda Alta, Sagrada Família, São Gabriel, São João do Polêsine, São José das Missões, São José do Norte, São Luiz Gonzaga, São Nicolau, São Sepé, Seberi, Sede Nova, Segredo, Senador Salgado Filho, Silveira Martins, Tapes, Tavares, Trindade do Sul, Uruguaiana, Vacaria, Viamão, Vicente Dutra.

Foram entrevistadas 28 mulheres negras, são elas: Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos, Ana Elba Peixoto de Abreu, Maria Helena Vargas da Silveira, Neuza Maria Machado Zoch, Rosa Maria Santos Araújo, Estela Maria Machado Feijó, Simone Pacheco, Sônia Maria Soares, Ligia Maria da Silva, Vera Lúcia Lopes, Rita de Cássia da Silva Dutra, Maria Joaquina Medeiros Sene, Antonia Lorita da Silva Soares, Simone Vieira Cruz, Iara Conceição Bitencourt Neves, Malu Viana, Deise Nunes Ferst, Zilah Machado, Maria Marques, Áurea Maria de Abreu Machado, Vera Regina de Araújo, Maria da Conceição Neves Afonso – São Tomé, Elizângela Lopes Gomes Adão – Guiné Bissau, Angolana (não quer ser identificada), Francisca Dias, Senhorinha Cleuma Vargas Machado, Mãe Carmen de Oxalá e Nizah Machado Sebaje.

A UTOPIA

No século XXI, novas investigações acerca da mulher negra no Estado são urgentes. No caminho da pesquisa documental e de histórias de vida, percebe-se que a comunidade negra no RS traz temas importantes para o debate, que transcendem a questão da escravidão.

O (re)descobrir da identidade da mulher negra gaúcha passa pelo reconhecimento: da história da Mãe África, anterior ao tráfico negreiro; das imagens positivas do continente africano e sua representação do feminino; da relação dos africanos com a natureza e a terra; da diáspora africana pelo mundo; da vida e obra de lideranças negras; da cultura ancestral dos vários grupos étnicos africanos que povoaram o Estado; e da contribuição do trabalho, também, das mulheres negras no acúmulo de riquezas do RS.

O exercício de elaboração da identidade sul-rio-grandense também deve contemplar o entendimento: da superação das condições de vida oferecidas, como as relações sexuais forçadas; do papel da mulher negra nas irmandades religiosas e religiões de matriz africana que influenciam a espiritualidade do gaúcho; da influência das negras na criação das crianças projetadas na linguagem e na literatura brasileira; da resistência social exercida pela população negra nos mais de 127 quilombos gaúchos; das guerreiras negras em solo sul-rio-grandense; da iniciativa da comunidade negra em criar escolas, alfabetizar adultos, mesmo com as restrições legislativas para a educação de descendentes de africanos; e da ascensão econômica do povo negro no Sul.

Aceitar as várias dimensões da mulher negra é conhecer: a história dos vários clubes sociais próprios do povo negro; a participação das mulheres negras na Imprensa Negra gaúcha, editada desde 1892 no RS; a emergência do Movimento Negro, principalmente o de mulheres negras sul-rio-grandensa; as manifestações literárias e artísticas; as expressões do samba, do carnaval, da capoeira, do hip-hop, do grafite, do esporte, dos mitos, das lendas, dos provérbios, das brincadeiras, dos jogos, da gastronomia, dos costumes, dos hábitos, dos mitos, etc. e sua relação com as demais etnias que compõem a identidade do Sul.

Entidades da sociedade civil organizada como, por exemplo as ONGs de Porto Alegre, Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras e ACMUN - Associação Cultural de Mulheres Negras do RS, ambas integrantes da AMNB - Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileira, vêm realizando projetos sociais, pesquisas científicas e eventos para mapear a real situação das mulher negra no Estado, com ênfase nos Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais, propostos pela ONU.

Ainda há muito o que se descobrir. A pesquisa “Mulheres Afro-Gaúchas” não pôde dar conta de todo o universo das particularidades das mulheres de descendência africana no Sul, mas deve estimular mais e mais pesquisas que revelem a essência das mulheres afro-riograndenses.

OBS: O resultado parcial da pesquisa "Mulheres Afro-Gaúchas", faz parte da publicação MULHERES DO RIO GRANDE DO SUL: Diversidade de Gênero, que se divide entre as cinco etnias formadoras da base da identidade das gaúchas: Mulheres Indígenas, Mulheres Espanholas, Mulheres Ciganas, Mulheres Luso-Açorianas e Mulheres Africanas. Tal projeto é fruto do Termo de Cooperação Técnica entre o Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, dirigido por Maria Helena Nunes, a Coordenadoria da Mulher do Estado do RS, coordenada por Beloni Turcatto, o produtor cultural Sérgio Paiva, sob supervisão geral da cientista social Jussara Prá. (no prelo)


SUGESTÕES DE LEITURAS

AMB. Mulheres Negras: Um Retrato da Discriminação Racial no Brasil. Brasília, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), 2001.

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AZEREDO, S. M. da M. Relações entre empregadas e patroas: reflexões sobre o feminismo em países multiraciais. In: COSTA, A. e BRUSCHINI, C. (org) Rebeldia e Submissão: estudos sobre a condição feminina. São Paulo: Editora Vértice e Fundação Carlos Chagas, 1989.

AZEVEDO, Thales de. As elites de cor numa cidade brasileira: um estudo de ascensão social & Classes sociais e grupos de prestígio. Salvador: EDUFBA/EGBA, 1996.

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BERNARDO, T. A mulher no candomblé e na umbanda. Dissertação de mestrado. São Paulo, PUC-SP, 1986.

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